Brasil perde um lutador

"Eu não tenho medo de morrer, tenho medo da desonra". Esta foi a frase que, por 13 anos, regeu a luta incansável de José Alencar Gomes da Silva contra o câncer. Infelizmente hoje, 29/03/11, às 14:41 o Brasil perdeu, vítima de falência múltipla dos órgãos em decorrência do câncer no abdome, obstruções intestinais e peritonite, um exemplo de garra, vontade, coragem e fé: o ex-vice-presidente da República.

José Alencar lutava contra o câncer desde a década de 1990. Ao longo dos anos, Alencar foi submetido a 17 cirurgias. A primeira delas foi em 1997, quando passou por um procedimento no rim e no estômago. Em 2002, passou por outra operação, na próstata. Desde 2006, foram vários procedimentos, todos eles para tratar o câncer no abdome. Uma das mais complicadas operações foi realizada no dia 25 de janeiro de 2009, quando o ex-vice-presidente ficou por 17 horas em uma sala de cirurgia para a retirada de tumores do local.

A história médica de Alencar é ímpar em relação ao sistema de saúde para a maioria dos brasileiros: os melhores médicos do país no hospital mais importante. Além disso, ele viajou dezenas de vezes para o MD Anderson Cancer Center, hospital referência no tratamento do câncer em Houston, EUA.

Mesmo assim, ainda é exemplo de fé até os últimos instantes para que a vida ganhasse. Imagine o que é estar morrendo sem poder fazer nada? Com o pensamento negativo, ele já teria ido. Talvez tivesse sido melhor, mas quem é batalhador desde pequeno (Alencar começou a trabalhar com sete anos) não desiste nunca. Talvez tenha sido o único político que todo mundo gostava, que torcia por ele. As imagens dele saindo ou chegando das intermináveis internações emocionava a todos, porque ele sempre estava com o sorriso aberto.

Biografia

Alencar nasceu em uma família humilde e montou um dos maiores conglomerados industriais do Brasil, a Coteminas (criada em 1967 na cidade de Montes Claros, MG. A empresa é hoje a maior fabricante de tecidos de cama, mesa e banho do Brasil e uma das maiores do mundo. Sua receita em 2009 foi de R$ 3,1 bilhões. Gera 16 mil empregos diretos no Brasil e cerca de 25 mil em todo o mundo). Nasceu em 17 de outubro de 1931 em Muriaé, a 300 Km de Belo Horizonte.

A atividade industrial o levou à política. Antes de entrar em sua primeira disputa eleitoral, Alencar foi presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria.

Foi escolhido como vice de Lula em uma manobra do Partido dos Trabalhadores em melhorar a imagem do provável futuro governo perante o mercado industrial. Foram 400 dias no comando do país. Alencar chegou a acumular temporariamente o Ministério da Defesa, em 2004.

Nota: até a publicação deste post não havia confirmação sobre o velório e enterro. As primeiras informações apontam o velório no Palácio do Planalto aberto ao público (sugestão de Dilma Rousseff com apoio de Lula) e enterro em Belo Horizonte.