O que verá a seguir é um depoimento sobre a infeliz condição da Educação no Brasil. É o testemunho da professora de Português Amanda Gurgel feito em audiência pública com deputados no Rio Grande do Norte. Apesar de ser local, serve para qualquer cidade deste país tão grande (e é aí que moram alguns dos maiores problemas).
Sinceramente, nunca tive problemas em minha vida estudantil. Graças a Deus e aos esforços de meus pais, sempre estudei em escolas particulares desde o meu Jardim. Não sei o que é sentir fome na escola, sair mais cedo por falta dos professores e/ou greves deles. Também não tive problema com material didático e nem com a estrutura física da escola.
Isso faz com que eu não tenha uma visão mais abrangente do assunto. Mas durante a vida já tive muitos colegas que estiveram nessa luta diária nas escolas públicas brasileiras. Todas deram o mesmo depoimento.
A fala que você acompanhou, e que virou um fenômeno nas redes sociais (pessoas como Gilberto Gil, Zélia Duncan, Marcelo Tas e Tom Cavalcante postaram comentários no Twitter a respeito), é triste. Triste porque já foram feitas tantas campanhas, greves e nada mudou. Mas alerta é sempre bom. E o que ela fez é maravilhoso tanto pela linguagem perfeita quanto pelo sentimento empregado.
Literalmente é a revolta de uma servidora da Educação que não consegue fazer o seu melhor. Imagine o que é uma pessoa que se forma em uma profissão já há muito desvalorizada e que está de mãos atadas no intuito de melhorar as condições de seus alunos?
Muito mais do que teorias e estudos, o que se vê é a realidade. Se Educação é o ponto inicial para a construção de um ser humano, que tipo de pessoas o Brasil está formando com a “qualidade” que está sendo dada para as crianças e adolescentes?
Veja como é o slogam do Governo Federal no governo Dilma:
Como um país que quer ser rico pode ter uma Educação tão pobre como a que temos? E como acabar com a pobreza financeira (que é o que está implícito neste slogam) se a Educação, meio pelo qual se adquire conhecimento e melhores condições de vida profissional, sempre foi o "primo pobre"?
Há alguns anos, na época em que nossos pais eram estudantes, a escola pública era forte e formava pessoas de verdade. As escolas particulares que apareciam eram tidas como ruins. Mas com o passar dos anos a situação mudou: com a conversão de educação em negócio, aqueles grandes centros educativos mantidos pelo Poder Público foram deixados de lado. Assim como muitos pais deixam a escola educarem seus filhos em todos os âmbitos humanos, o que é um erro, a partir desta época o Governo passou a deixar nas mãos de empresas uma das funções básicas de cada esfera do poder.
A consequência é o que encontramos atualmente: despreparo, falta de estrutura e de apoio, precariedade e o sentimento de impotência. Quero lembrar a série de reportagens que o Jornal Nacional está fazendo nesta semana. O “JN no Ar - Especial Educação” está viajando o Brasil para mostrar as melhores e piores escolas de acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, IDEB, do Ministério da Educação: o que elas têm em comum? Quais são as ações positivas e negativas? Será que o problema restringe-se apenas aos muros da escola?
O que nós podemos fazer? Cobrar. A situação está desta forma também porque os políticos não colocam seus filhos em escolas públicas. Assim como eu, não sabem a realidade. Só ficam sabendo quando greves acontecem. Mas como a professora Amanda disse, o problema não é pontual: está no dia-a-dia.
Não podemos deixar que o assunto vá e volte. Ele tem que permanecer. É uma pauta absoluta. Precisamos aprender a dar valor ao que interessa. Não à vida das celebridades, notícias sem importância. Vivemos em uma Democracia e por isso precisamos nos unir por objetivos comuns. Existem muitas ações positivas pela Educação. Vamos multiplicá-las e colocar uma lupa em cada uma delas para que a capacidade aumente.
Se o Poder Público não quer saber de nada, ou melhor, só quer saber o que acontece entre as paredes dos órgãos públicos, então façamos barulho para que aquilo que vivemos no dia-a-dia da rua possa ultrapassar as paredes de ferro e os ouvidos seletivos de nossos também precários representantes.
2 comentários:
Só quem passa por dificuldades sabe explicar melhor suas necessidades e vontades, eu que agora sou funcionária pública tenho minhas grandes dificuldades, mas farei de tudo para que minhas vontades sejam feitas. Depende de nós.
Sempre estudei em escolas públicas. Até o curso superior foi em universidade pública. Vivi muito do q é mostrado nos jornais, mas os problemas da educação pública no Brasil são tão grandes e está tão à mostra q não é preciso ser usuário para saber deles. Seu texto aborda esse assunto de forma brilhante. Vc não viveu mas conhece.
Laboratórios, bibliotecas, o uso de tecnologias auxiliares... a falta disso dificulta o aprendizado, mas em muitas escolas o q falta são coisas ainda mais básicas como um ambiente limpo e seco, cadeiras, água no bebedouro, segurança.... Tudo isso limita a qualidade da formação dos alunos de escolas públicas, mas a falta de formação dos professores era o que mais me preocupava.
Cidadãos bem formados sabem votar. O voto é uma arma poderosa, os governantes estão certos em não querer correr risco. Mas nós estamos errados por reclamar, reclamar e acabar aceitando como está.
Beijos!
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