Há um ano, eu não estava aqui. Aliás, não estava em lugar algum. Meu pensamento, assim como o de todos da minha família, era um só: como tudo tinha que acabar desse jeito? Indignação, sofrimento, saudade... tudo isso estava junto.
Foram meses de luta, persistência, agonia, tensão e medo do telefone: qualquer som que lembrasse “Olha a informação!” era um terror. Mas mesmo assim sempre estávamos atrás de notícia.
Mesmo de longe, a força era vital. Porém, nem toda a força do mundo foi bastante. Era chegada a hora. Mas tinha que acabar desse jeito? Em certo ponto, a pergunta aí do lado já tinha resposta. E era afirmativa. Porém, quem disse que queríamos acreditar? Voltar no tempo não dava, mas para quê voltar se não percebemos nada de errado?
Muitas vezes me peguei pensando sobre a tal resposta como se me preparasse. Realmente existem coisas que não podemos mudar. Quando se ouve “A medicina fez tudo o que era possível”, “Está por horas” e “A pressão está baixando muito rápido”, percebe-se que todo o conhecimento humano coloca o rabo entre as pernas e corre para se esconder.
A morte de minha tia Mila, que completa hoje um ano, foi como perder o chão. Tudo aconteceu muito rápido. Apesar da agilidade do “Adeus”, foram longos meses de sofrimento ao máximo. Não cheguei a conviver com isso, mas quando ouvia os relatos, o arrepio era eminente. Até hoje me pergunto como tudo aconteceu.
De repente estávamos em Campinas, no hospital. De repente eu estava em frente a ela: deitada na cama, ligada apenas a um soro. Conversando, sorrindo à medida que podia. Tempo depois, lá estava eu, de novo: ela mais magra, mas mais uma vez ligada apenas a um aparelho (agora para alimentá-la). Conversando menos. Foi aí que cheguei à conclusão de que quem estava ali não era mais minha tia, aquela com quem os momentos foram bons.
Sem sentir, estava eu, sozinho na casa de minha avó. Meus pais, irmã e tias indo para Campinas. Foi nesse dia que escrevi um agradecimento a Deus e a ela. Ali que eu já me preparava para o luto. Era um sábado.
Passei o final de semana pensando nos relatos de quem esteve com ela: sedada, querendo acordar para falar algo. Minha irmã dizendo que ficou muito tempo com ela. Que chorou muito. Na saída, minha tia abanou as mãos. Era o “adeus”.
No começo da semana seguinte o telefone tocou. Paramos. A voz do outro lado disse "Acabou". Aí mais uma vez veio a tristeza (ou ela apenas se intensificou, pisando no coração de todos?), mas surgiu um suspiro. De alívio. Para quê deixar uma pessoa tão boa, com uma presença forte, sofrer?
Quando fui ler o texto que havia feito no final de semana minutos antes do enterro, gelei. As pernas tremiam. O coração ordenava e os olhos mostravam a minha dor. Olhar para aquele caixão, com as pessoas que eu mais amo ao redor chorando demais e vendo o corpo de uma das pessoas mais especiais que conheci ali, inerte, era para eu ter fraquejado. Mas li. Homenageei-a. Agora, como há 365 dias, digo as mesmas palavras. Por isso...
Obrigado. Obrigado a Deus por ter colocado a tia Mila em nossos caminhos. Por iluminar nossas vidas com mais alegria e bom humor. Por crescermos como pessoas ajudados por ela. Por ter feito, por meio dela, nossa existência mais feliz.
Obrigado a você, tia Mila, por ter sido companheira em todos os momentos. Por contagiar qualquer ambiente com sua risada e seu agradável e inconfundível perfume. Por ter nos dado o prazer de sentar à mesa e papearmos durante as refeições. Por nos fazer contar até seis com seus espirros. Por ter aceitado o apelido de “Roberta Miranda” desde que nos conhecemos. Por ter feito o tio Eraldo uma pessoa mais iluminada. Enfim...obrigado por ter cruzado nosso caminho.
Temos a certeza de que a perda é apenas dos olhos, porque não a veremos mais. Por isso choramos. Mas nosso coração nunca perde de vista as pessoas que amamos: está sempre procurando nos mostrar caminhos por onde encontramos a quem sentimos falta. O coração dá ordem aos olhos e a gente logo vai procurar uma foto. O coração dá ordem ao cérebro, e logo nos vem lembranças em sonhos ou em qualquer momento do dia.
Sabemos que você está por aqui. Ao nosso lado. Acompanhada do tio Eraldo, de nosso avô Domingos e de todos os demais familiares. E sabemos que é uma corrente para nos dar força. Uma corrente que nunca vai se quebrar. E onde quer que estejamos ali estarão nossos anjos.
Perdemos a tia Mila como pessoa. Mas ganhamos um anjo chamado Mila.
Foram meses de luta, persistência, agonia, tensão e medo do telefone: qualquer som que lembrasse “Olha a informação!” era um terror. Mas mesmo assim sempre estávamos atrás de notícia.
Mesmo de longe, a força era vital. Porém, nem toda a força do mundo foi bastante. Era chegada a hora. Mas tinha que acabar desse jeito? Em certo ponto, a pergunta aí do lado já tinha resposta. E era afirmativa. Porém, quem disse que queríamos acreditar? Voltar no tempo não dava, mas para quê voltar se não percebemos nada de errado?
Muitas vezes me peguei pensando sobre a tal resposta como se me preparasse. Realmente existem coisas que não podemos mudar. Quando se ouve “A medicina fez tudo o que era possível”, “Está por horas” e “A pressão está baixando muito rápido”, percebe-se que todo o conhecimento humano coloca o rabo entre as pernas e corre para se esconder.
A morte de minha tia Mila, que completa hoje um ano, foi como perder o chão. Tudo aconteceu muito rápido. Apesar da agilidade do “Adeus”, foram longos meses de sofrimento ao máximo. Não cheguei a conviver com isso, mas quando ouvia os relatos, o arrepio era eminente. Até hoje me pergunto como tudo aconteceu.
De repente estávamos em Campinas, no hospital. De repente eu estava em frente a ela: deitada na cama, ligada apenas a um soro. Conversando, sorrindo à medida que podia. Tempo depois, lá estava eu, de novo: ela mais magra, mas mais uma vez ligada apenas a um aparelho (agora para alimentá-la). Conversando menos. Foi aí que cheguei à conclusão de que quem estava ali não era mais minha tia, aquela com quem os momentos foram bons.
Sem sentir, estava eu, sozinho na casa de minha avó. Meus pais, irmã e tias indo para Campinas. Foi nesse dia que escrevi um agradecimento a Deus e a ela. Ali que eu já me preparava para o luto. Era um sábado.
Passei o final de semana pensando nos relatos de quem esteve com ela: sedada, querendo acordar para falar algo. Minha irmã dizendo que ficou muito tempo com ela. Que chorou muito. Na saída, minha tia abanou as mãos. Era o “adeus”.
No começo da semana seguinte o telefone tocou. Paramos. A voz do outro lado disse "Acabou". Aí mais uma vez veio a tristeza (ou ela apenas se intensificou, pisando no coração de todos?), mas surgiu um suspiro. De alívio. Para quê deixar uma pessoa tão boa, com uma presença forte, sofrer?
Quando fui ler o texto que havia feito no final de semana minutos antes do enterro, gelei. As pernas tremiam. O coração ordenava e os olhos mostravam a minha dor. Olhar para aquele caixão, com as pessoas que eu mais amo ao redor chorando demais e vendo o corpo de uma das pessoas mais especiais que conheci ali, inerte, era para eu ter fraquejado. Mas li. Homenageei-a. Agora, como há 365 dias, digo as mesmas palavras. Por isso...
Obrigado. Obrigado a Deus por ter colocado a tia Mila em nossos caminhos. Por iluminar nossas vidas com mais alegria e bom humor. Por crescermos como pessoas ajudados por ela. Por ter feito, por meio dela, nossa existência mais feliz.
Obrigado a você, tia Mila, por ter sido companheira em todos os momentos. Por contagiar qualquer ambiente com sua risada e seu agradável e inconfundível perfume. Por ter nos dado o prazer de sentar à mesa e papearmos durante as refeições. Por nos fazer contar até seis com seus espirros. Por ter aceitado o apelido de “Roberta Miranda” desde que nos conhecemos. Por ter feito o tio Eraldo uma pessoa mais iluminada. Enfim...obrigado por ter cruzado nosso caminho.
Temos a certeza de que a perda é apenas dos olhos, porque não a veremos mais. Por isso choramos. Mas nosso coração nunca perde de vista as pessoas que amamos: está sempre procurando nos mostrar caminhos por onde encontramos a quem sentimos falta. O coração dá ordem aos olhos e a gente logo vai procurar uma foto. O coração dá ordem ao cérebro, e logo nos vem lembranças em sonhos ou em qualquer momento do dia.
Sabemos que você está por aqui. Ao nosso lado. Acompanhada do tio Eraldo, de nosso avô Domingos e de todos os demais familiares. E sabemos que é uma corrente para nos dar força. Uma corrente que nunca vai se quebrar. E onde quer que estejamos ali estarão nossos anjos.
Perdemos a tia Mila como pessoa. Mas ganhamos um anjo chamado Mila.
Ludmila Keller Lopes
(25/06/1958 – 02/08/2010)
(25/06/1958 – 02/08/2010)
2 comentários:
Quando cheguei em casa, pensei será que é pela tia dele...deve estar fazendo um ano, e olha acabei acertando. Foram momentos tristes, lembro de tudo que conversamos naqueles dias, e depois de um ano a saudade ainda grita dentro do peito. Mas a saudades não deixa esquecer, e são as boas lembranças que nos fazem bem, que tudo valeu a pena. Que aprendemos, como é bom ganhar um sorriso no rosto quando falamos eu te amo, e sua tia , assim como seu tio e avô foram amados e seprem serão.
É desse jeito... não passa.
Essa homenagem foi linda!
O tempo não faz o amor q sentíamos passar, nem ficar frio.
Nesses dias eu tbm estava lembrando os dois anos da partida da minha avó. Ainda hoje depois de encontrar meu avô saio procurando por minha avó pela casa. Saudade grande...
Beijos!
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