1 de junho de 2010

Visita de médico


Viajar é gostoso, né? Pena que a minha viagem relâmpago no último domingo, 30/05, não foi à passeio. Alíás, foi um pouco, porque visitar parente sempre é motivo de prazer.

Mas o grande motivo dessa "viagem de médico" teve significado literal do termo entre aspas aí do lado: minha família e eu fomos para Campinas ver minha tia que está em estado grítico em um hospital.

A viagem foi prazerosa: música, friozinho, conversa, parada em um ótimo posto...enfim... caminho abençoado. Chegamos e pudemos rir com minha prima de 5 anos, com meu tio e sua esposa. Tudo bem. O problema foi depois do almoço: ir ao hospital.

O coração começou a bater mais forte, um certo nervosismo, muitas coisas passando na cabeça. Tudo isso motivado por um assunto mórbido antes do almoço: pensar no, quem sabe, depois da morte. O que seria feito com os pertences de minha tia, onde seria sepultada...um assunto funesto, mas que deveria mesmo ser conversado afinal de contas os médicos disseram para ficarmos em alerta.

Voltando ao hospital, público. Que tristeza... feio, com emergência chegando a todo momento, pessoas berrando pela morte de um ente querido...tudo isso aos nossos olhos. Infelizmente pude sentir na pele o sofrimento de quem precisa do sistema público de saúde neste país.

Chegou a minha hora de visitar minha tia. Subi os dois andares pensando no que conversaria, como reagiria...enfim...Entrei no quarto e a vi: não parecia tão ruim o estado, porque a gente tem aquela ideia de que quando a pessoa está em estado muito grave em um hospital geralmente está isolada em um quarto, com vários aparelhos, sem poder conversar...mas não foi isso que encontrei. Tá bom que está pálida, com os olhos amarelados, mas conversando e ligada apenas a um aparelho que a alimenta por meio da Carótida (uma grande e importante veia que fica no pescoço).

Nem deu tempo de eu pensar em outro assunto: ela logo começou a falar do que aconteceu desde que voltou ao hospital, mostrou-me a cicatriz da primeira cirurgia e disse estar esperando porque nem a primeira batalha desta guerra foi vencida. Devo ter ficado com ela por uns cinco minutos.

Saí triste, porque conversei, segurei a mão de uma pessoa tão querida, com quem me identifico tanto, mas que posso tê-la visto pela última vez. Enfim...mas não foi só eu que saiu assim. Meu pai ficou pouco tempo e voltou ao nosso encontro com os olhos marejados. E disse: "Não aguentei ficar muito tempo. É muito triste. Quase que choro na frente dela".

Para você que está de longe é complicado entender. Novamente afirmo que o ser humano está acostumado a lidar com situações de doenças graves, como esta que minha família está vivendo, tendo a imagem de uma pessoa completamente debilitada tanto interna quanto externamente. Mas não é isso que encontramos. Vemos uma pessoa conversando, sem nenhum aparelho de respiração ou qualquer outro daqueles que vemos em filmes ou novelas. Então o cérebro fica confuso, deve pensar: "Poxa, como pode estar ruim se eu não vejo isso?"

Os primeiros quarenta minutos da viagem de volta foi em silêncio. Cada um tentando assimilar o que viu, o que está acontecendo. O começo desta semana é decisivo. Infelizmente na segunda-feira, 31/05, ela voltou a comer, mas a vomitar tudo. Então agora está decidido: vai ter que fazer cirurgia de novo, porque como retirou o estômago houve a necessidade de se fazer uma ligação, com um pedaço de 40 centímetros do intestino, entre o esôfago e o próprio intestino. Nisso há dois "caminhos" (se assim posso dizer): um deles dobrou por causa do organismo. Esta cirurgia que será amanhã, 02/06 às 09h00, vai tentar refazer isso.

Mas aí vem a pergunta: ela conseguirá resistir? Este é o impassse. Cada dia é uma loteria, uma luta pela sobrevivência. Desculpe-me se todos os meus posts têm sido triste. Mas é o momento em que me encontro. E este espaço está servindo como um refúgio em que posso contar tudo isso. Ajuda a pensar e, quem sabe, a se preparar.

E minhas avós? A que quebrou o fêmur, a materna, está em uma recuperação incrível para a idade dela: fisioterapia, andando bem de andador, sem dar muito escândalo por querer ir ao banheiro, mesmo com a fralda (coisa que ela não usa mais). Já minha avó paterna, parece que está do mesmo jeito: com exames vendo se faz a cirurgia ou não. Mas daqui a alguns dias ela virá para casa em outros médicos para uma terceira opinião.

Um comentário:

Je* disse...

Aqui foi o local ideal pra dividir conosco tudo que você passou e sentiu.