7 de junho de 2012

Raízes populares da cultura brasileira

O título aqui em cima faz parte de um trabalho da minha pós-graduação para o módulo "Literatura Contemporânea". Assim como esperei ansioso pelos comentários da professora, também espero ver o que você tem a pensar sobre tudo o que se discute no texto.


Este foi o nome dado à aula/palestra ministrada pelo escritor, dramaturgo e poeta paraibano Ariano Suassuna (19/06/1927 – Cidade da Paraíba, atual João Pessoa, PB) no no sábado, 26, no Theatro Pedro II como uma das atividades da 12ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto.

Theatro Pedro II, o 3º maior teatro de ópera do país, lotado!
(Imagem: Joyce Cury)
Após ser apresentado por uma aluna do sexto ano da rede pública de ensino de Ribeirão Preto, o escritor dos conhecidos “O Auto da Compadecida” (1955) e “A Pedra do Reino” (1971) foi recebido com aplauso por mais de mil e cem pessoas que lotaram o teatro. 

Acompanhado por seu secretário, tendo em mãos uma maleta executiva envelhecida marrom e com o carinho de sua esposa Zélia na primeira fila, a qual foi apresentada durante a palestra, Ariano começou com uma série de brincadeiras: desculpando-se pela rouquidão e as tosses frequentes, dizendo que tais problemas são genéticos, vindos de seu bisavô; situações com o uso do telefone; as “brigas” com o microfone e a crítica de um jornal carioca que confundiu o aplauso dele a uma citação feita durante uma palestra (o jornal havia entendido que o aplauso era para Ariano mesmo, e não para quem havia sido citado).

Ariano formou-se em advocacia. Segundo ele, a única profissão na qual poderia se formar sem deixar de lado tudo aquilo que gostava de fazer. Também arrancou riso contando passagens da sua curta profissão.

Na biografia de Ariano Suassuna consta passagem pela política como secretário de assessoria ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Este cargo é executado junto a uma trupe de artistas (músicos e bailarinos) especialmente formada pelo autor e tida como seu circo particular. Com eles, Ariano já percorreu 78 municípios pernambucanos, levando cultura por meio da leitura (segundo ele: “Leitura é paixão. Um mundo novo que se abre”) e disseminando a riqueza do povo nordestino. 

A paixão pelo circo é antiga e uma das carreiras que ele desejava seguir. Tanto é que no livro “O Auto da Compadecida”, Ariano criou um palhaço em homenagem a ele mesmo (ele fez questão de enfatizar que era apenas no livro, porque no cinema e na tevê esse personagem não aparece).  

De acordo com o poeta, o sucesso de suas obras deve-se ao fato de que nelas estão presentes as histórias do povo recolhidas por ele de folhetins, comuns no Nordeste. O trabalho foi apenas teatralizar as narrativas: “Uma literatura que expressasse a cultura popular”.

A palestra trouxe a discussão de como a real cultura brasileira (formada, de acordo com o escritor, por índios, negros e portugueses cujos pilares são as culturas rupestre, barroca e popular) tem sido tratada. Citando a Banda Calypso, o autor indignou-se com o fato de que o país deixa qualquer coisa virar sucesso: “Os meios de comunicação estão trazendo cultura de quarta categoria” e “Eu não tenho poder político, não tenho poder econômico, mas eu tenho uma língua afiada”. Além disso, citando Lady Gaga, expressou preocupação pela invasão de outros idiomas na língua portuguesa, reconhecida por ele como a mais rítmica, sonora e musical e, por isso mesmo, detentora de inúmeras possibilidades de criação.

Com o apoio de apresentação de slides, Ariano negou a afirmação de que a arte/cultura do país foi criada após a chegada dos portugueses. Para ele, a formação cultural brasileira é anterior. Para exemplificar, se utilizou de imagens do teatro indígena com suas máscaras e vestimentas específicas, geralmente usadas em rituais espirituais e em guerras.

Foi também por meio de slides que o poeta ratificou sua vida em defesa da cultura nacional ao mostrar o conjunto de esculturas em pedra sabão do mestre Antonio Francisco Lisboa, Aleijadinho, localizada no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas do Campo (MG). Com as imagens, Ariano disse que tal obra não perdia em nada para as europeias e ainda transmitiam a religiosidade e o instinto artístico brasileiro. Como homenagem aos artistas brasileiros e, inspirado nos dozes apóstolos de Aleijadinho, Ariano Suassuna criou o Santuário da Pedra do Reino, construído na cidade de São José do Belmonte (PE) e formado por esculturas de santos e da sagrada família. Em entrevista concedida a Carlos Ribeiro, Ariano afirma que “... é uma espécie de ‘Evangelho em Pedra’, como o ‘Santuário de Congonhas’, erguido pelo Aleijadinho em Minas Gerais, procuro dar expressão plástica a meu universo interior e criar, para o povo brasileiro, um monumento arquitetônico e escultórico que dê visibilidade ao eixo cultural Nordeste-Minas, fundamental para o Brasil”.

Tivemos a possibilidade de conhecer um ícone da literatura contemporânea brasileira que mesmo com 85 anos de idade mostra-se completamente lúcido e atuante em sua luta pela defesa da real cultura popular brasileira.

Foi uma aventura. Valeu a pena esperar por mais de uma hora a céu aberto, participar de um ato que pedia melhor organização na gigantesca fila e entrar no teatro. Conhecer Ariano Suassuna foi perceber o quanto nossa sociedade é refém de um sistema que explora o que é de fora e ridiculariza a riqueza que nos tem formado.


Um comentário:

Je* disse...

Ualllll... que conhecimento, hem?
Parabéns, ótimo texto.
Conhecendo nossas riquesas culturais... importantíssimo.